The Great Escape....
Em 1977, ou 78, acabei sendo colocado num colégio interno, Mauá de Santa Cruz do Sul.
Diziam meus avós, que seria a "última" tentativa de salvar o capetinha que existia dentro de mim, e lá fui eu...
Primeiro, tivemos que comprar uma série de coisas que eram obrigatórias, assim tipo, enxoval, que ia desde produtos de higiene pessoal, até roupa de cama e um mosquiteiro...
Ganhei, isso na matrícula, o numero 87, que deveria ser fixado em todas as peças de ro
Em 1977, ou 78, acabei sendo colocado num colégio interno, Mauá de Santa Cruz do Sul.
Diziam meus avós, que seria a "última" tentativa de salvar o capetinha que existia dentro de mim, e lá fui eu...
Primeiro, tivemos que comprar uma série de coisas que eram obrigatórias, assim tipo, enxoval, que ia desde produtos de higiene pessoal, até roupa de cama e um mosquiteiro...
Ganhei, isso na matrícula, o numero 87, que deveria ser fixado em todas as peças de ro
upa, cama, toalhas etc, uma vez que levávamos essas roupas para uma enorme lavanderia, e que depois de lavadas e passadas, eram colocadas em nichos, com nosso numero, afinal, como num mundo de 100 pessoas, saber de quem é quem as roupas? Tinham lugares específicos para serem colocados, por exemplo: camisa na barra lado direito, calca parte de trás e por ai vai...
Quando fui deixado pelo meus avós, posso garantir que não fui o único que chorou, isso que nem morava tão longe assim, cerca de 80km Santa Cruz do Sul de Lajeado. Tinha alunos que vinham de outros estados, SC PR...
A primeira noite foi cruel, um choro de saudades só. Fiquei no quarto, com dois colegas, mais velhos do que eu, Xicão e Escolaudi, Não lembro de onde eram, mas não eram da redondeza.
O mosquiteiro fazia sentido, pq o que tinha de mosquito, não era mole não...
Todas as manhãs, éramos acordados com som a todo volume, em caixas de som, espalhadas nos finais dos corredores, e acreditem, a musica parecia um convite ao inferno sem escala.
O café da manha era legal, pão quentinho e frios, alem de sucos e o próprio café.
Sentávamos numa mesa com 6 pessoas, e um era o "chefe" da mesa, responsável seja pelas revindicações ou na organização da fila e depois entrega da louça na cozinha.
Até ai tudo seguia nos conformes.
Mas eu não estava me adaptando muito com essa vida de "prisão", afinal, alem de não gostar muito de cumprir ordens, nunca tinha ficado longe de casa e isso me deixava muito triste.
A escola, Mauá, ficava no centro da cidade, o que nos proporcionava, em ter que caminhar até lá e o passeio era legal. Ia cada um por si, tínhamos que observar o horário apenas.
Na volta, no almoço, era igualmente legal, boa comida, sucos etc.
Depois tinha até as 15h, uma folga pra começar a parte de estudos numa sala enorme que tinha onde eram divididos mais ou menos por idade e série, afim de fazer os temas, estudar etc.
No fim de semana, ia até a secretaria, onde maus avós, tinham determinado um valor em cash, para sacar, lógico que depois reembolsado pela família, para fazermos o que quiséssemos. Eu pegava a grana, pra pegar o ônibus e vir pra casa, lógico.
Tudo ia meio que aos trancos e barrancos, como disse, não me adaptava longe de casa, meus amigos, afinal estava sendo minha 4 (quarta) mudança de colégio e por consequência amigos. De NH, a POA e de POA a Lajeado, assim não tem amizade que dure.
No terceiro fim de semana, fui novamente na secretaria buscar minha grana para vir pra casa, e a Dona Lori, mulher chata e mal amada, disse que não me daria, pq minha avó, não queria que eu fosse todos finais de semana a Lajeado, que teria que me acostumar a ficar um tempo longe!
Pedi então, até então, educadamente, que me emprestasse o telefone que resolveria aquele "mal entendido". Ela negou meu telefonema! Argumentei, ainda educadamente que até quem vai preso tinha direito a um telefonema! Mais uma vez ela negou! Então eu disse:
- Anota ai, não existem grades e nem regras que podem segurar esse cara aqui! Me virei e fui traçar meu plano de fuga!
Conversei com dois, três amigos, sobre eu plano de fuga e faltava a grana. Ai um colega, deixa que te empresto! A grana tava resolvida.
Estava de calção Adidas azul, camiseta branca Hering de fisica e havaianas. Sai da sala de estudo e ia até meu quarto trocar de roupa, quando o diretor, marido da Dona Lori, me pegou e mandou devolta a sala de estudos. Já tinha um zum zum zum, que eu tinha planos de espapar e logo o internato inteiro começava suas apostas.
Voltei a sala de estudos. Tinha a grana, faltava a roupa e achar uma porta pra sair. Abri a porta da sala e tentei sair, mais uma vez o Diretor me pegou, mandando de volta sala.
Sabia que o ônibus era as 15h, estava quase na hora, abri a porta e ele estava lá, como um cão de guarda no final do corredor.
Ai olhei pra janela, era uma altura razoável. Tinha uma marquise um pouco abaixo, e era 25% da altura do todo. Ai, outro colega disse.
Fazemos o seguinte, ficamos na marquise, me deito e usa meu braço como uma corda, não é muito, mas meu braço, mais o teu e mais a marquise, acho que dá.
E foi, pulamos os dois a marquise. Os colegas se espremiam afim de ver o The Great Escape, ele deitou, deitei de frente pra ele, e agarrei seu braço, o cara ara um cavalo de forte, e fiquei suspenso pelo braço dele. Olhei pro chão e disse, não tem mais volta, e pulei. Cai e rolei, como nos filmes, tudo 100%.
Foi então que um colega, gay, Herbert, começou a gritar:
Ta fugindo!!! o Ricardo tá fugindo!!!!
Comecei a correr e ao olhar pra trás vi o Diretor atrás de mim, não tinha como fugir pelo portão principal, fui então contornando a cerca, existe até hoje a mesma cerca de ferro, e ela atras de mim, eu precisava de mais velocidade. Então como um "patusco", tirei meus chinelos e coloquei nas mãos, tipo luva, ai meu filho, eu com 15 anos, não seria um tio que me pegaria na corrida.
Aquele cerca, de ferro e pontiaguda, pulei como um cavalo de competição, sem cometer faltas...e ai, olhai pre trás, estava ele, sem folego me encarando, e assim via eu sua fisionomia de ódio sumindo a cada nova passada minha.
Corei até uma bifurcação, não sabia em qual das duas ruas o ônibus, viria, fui na sortem escolhendo uma e ela estava comigo. O ônibus vinha na minha direção e parei no meio da rua, lembrando de como meu avô, parou um ônibus da Central, num dia de chuva, para nós, voltarmos a NH.
Fiquei no meio da rua, balançando os braços, como um aceno e ele parou...abriu a porta, perguntei:
Lajeado?
Sim, Lajeado...
Então é nesse que eu vou...
Embarquei e fui até o último banco, cansado, adrenalina amil, mas na certeza de que foi mesmo uma "Grande Espapada"!
(Minha humilde mas muito sincera homenagem a Steve McQueen, de quem até hoje sou super fã).
Quando fui deixado pelo meus avós, posso garantir que não fui o único que chorou, isso que nem morava tão longe assim, cerca de 80km Santa Cruz do Sul de Lajeado. Tinha alunos que vinham de outros estados, SC PR...
A primeira noite foi cruel, um choro de saudades só. Fiquei no quarto, com dois colegas, mais velhos do que eu, Xicão e Escolaudi, Não lembro de onde eram, mas não eram da redondeza.
O mosquiteiro fazia sentido, pq o que tinha de mosquito, não era mole não...
Todas as manhãs, éramos acordados com som a todo volume, em caixas de som, espalhadas nos finais dos corredores, e acreditem, a musica parecia um convite ao inferno sem escala.
O café da manha era legal, pão quentinho e frios, alem de sucos e o próprio café.
Sentávamos numa mesa com 6 pessoas, e um era o "chefe" da mesa, responsável seja pelas revindicações ou na organização da fila e depois entrega da louça na cozinha.
Até ai tudo seguia nos conformes.
Mas eu não estava me adaptando muito com essa vida de "prisão", afinal, alem de não gostar muito de cumprir ordens, nunca tinha ficado longe de casa e isso me deixava muito triste.
A escola, Mauá, ficava no centro da cidade, o que nos proporcionava, em ter que caminhar até lá e o passeio era legal. Ia cada um por si, tínhamos que observar o horário apenas.
Na volta, no almoço, era igualmente legal, boa comida, sucos etc.
Depois tinha até as 15h, uma folga pra começar a parte de estudos numa sala enorme que tinha onde eram divididos mais ou menos por idade e série, afim de fazer os temas, estudar etc.
No fim de semana, ia até a secretaria, onde maus avós, tinham determinado um valor em cash, para sacar, lógico que depois reembolsado pela família, para fazermos o que quiséssemos. Eu pegava a grana, pra pegar o ônibus e vir pra casa, lógico.
Tudo ia meio que aos trancos e barrancos, como disse, não me adaptava longe de casa, meus amigos, afinal estava sendo minha 4 (quarta) mudança de colégio e por consequência amigos. De NH, a POA e de POA a Lajeado, assim não tem amizade que dure.
No terceiro fim de semana, fui novamente na secretaria buscar minha grana para vir pra casa, e a Dona Lori, mulher chata e mal amada, disse que não me daria, pq minha avó, não queria que eu fosse todos finais de semana a Lajeado, que teria que me acostumar a ficar um tempo longe!
Pedi então, até então, educadamente, que me emprestasse o telefone que resolveria aquele "mal entendido". Ela negou meu telefonema! Argumentei, ainda educadamente que até quem vai preso tinha direito a um telefonema! Mais uma vez ela negou! Então eu disse:
- Anota ai, não existem grades e nem regras que podem segurar esse cara aqui! Me virei e fui traçar meu plano de fuga!
Conversei com dois, três amigos, sobre eu plano de fuga e faltava a grana. Ai um colega, deixa que te empresto! A grana tava resolvida.
Estava de calção Adidas azul, camiseta branca Hering de fisica e havaianas. Sai da sala de estudo e ia até meu quarto trocar de roupa, quando o diretor, marido da Dona Lori, me pegou e mandou devolta a sala de estudos. Já tinha um zum zum zum, que eu tinha planos de espapar e logo o internato inteiro começava suas apostas.
Voltei a sala de estudos. Tinha a grana, faltava a roupa e achar uma porta pra sair. Abri a porta da sala e tentei sair, mais uma vez o Diretor me pegou, mandando de volta sala.
Sabia que o ônibus era as 15h, estava quase na hora, abri a porta e ele estava lá, como um cão de guarda no final do corredor.
Ai olhei pra janela, era uma altura razoável. Tinha uma marquise um pouco abaixo, e era 25% da altura do todo. Ai, outro colega disse.
Fazemos o seguinte, ficamos na marquise, me deito e usa meu braço como uma corda, não é muito, mas meu braço, mais o teu e mais a marquise, acho que dá.
E foi, pulamos os dois a marquise. Os colegas se espremiam afim de ver o The Great Escape, ele deitou, deitei de frente pra ele, e agarrei seu braço, o cara ara um cavalo de forte, e fiquei suspenso pelo braço dele. Olhei pro chão e disse, não tem mais volta, e pulei. Cai e rolei, como nos filmes, tudo 100%.
Foi então que um colega, gay, Herbert, começou a gritar:
Ta fugindo!!! o Ricardo tá fugindo!!!!
Comecei a correr e ao olhar pra trás vi o Diretor atrás de mim, não tinha como fugir pelo portão principal, fui então contornando a cerca, existe até hoje a mesma cerca de ferro, e ela atras de mim, eu precisava de mais velocidade. Então como um "patusco", tirei meus chinelos e coloquei nas mãos, tipo luva, ai meu filho, eu com 15 anos, não seria um tio que me pegaria na corrida.
Aquele cerca, de ferro e pontiaguda, pulei como um cavalo de competição, sem cometer faltas...e ai, olhai pre trás, estava ele, sem folego me encarando, e assim via eu sua fisionomia de ódio sumindo a cada nova passada minha.
Corei até uma bifurcação, não sabia em qual das duas ruas o ônibus, viria, fui na sortem escolhendo uma e ela estava comigo. O ônibus vinha na minha direção e parei no meio da rua, lembrando de como meu avô, parou um ônibus da Central, num dia de chuva, para nós, voltarmos a NH.
Fiquei no meio da rua, balançando os braços, como um aceno e ele parou...abriu a porta, perguntei:
Lajeado?
Sim, Lajeado...
Então é nesse que eu vou...
Embarquei e fui até o último banco, cansado, adrenalina amil, mas na certeza de que foi mesmo uma "Grande Espapada"!
(Minha humilde mas muito sincera homenagem a Steve McQueen, de quem até hoje sou super fã).
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