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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Óculos...



Ela era uma menina de personalidade forte, amava ver seu jeitinho diferente e único, pois o que a diferenciava de todas as outras, era o par de óculos que sempre cobriam seus pequenos olhos verdes que pareciam como duas gotas de um mar verde de tantos sonhos de marinheiros.
Admirava essa menina, porque estamos falando de quase quarenta anos atrás, onde, os óculos, não eram assim tão badalados como hoje, não existiam variedades de cores e modelos, eram o básico preto e muitas vezes pesados, e por assim, marcavam seu nariz angelical, que completava com meus pequenos lábios o rosto de menina que invadia meus sonhos.
Lindo era ver quando os tirava para limpar, já notaram que quando conhecemos alguma pessoa que está sempre de óculos, quando os tiram, parecem ser outra pessoa completamente diferente?
Pois então, ela sem eles, parecia outra menina, mas não seria ela de verdade sem eles.
Também ao limpa-los, sua testa franzia, de forma meiga como que além do esforço em tentar ler o que estava escrito no quadro negro, percebia que sua audição tornara-se assim mais perceptiva aos acontecimentos em seu redor...outra vez colocados, mais uma vez aqueles olhos pareciam ter muito mais vontade de ver os pequenos detalhes do mundo, perceber as pequenas coisas, que para muitos com certeza passariam despercebidos, pois pela facilidade de enxergar, quem sabe, assim como eu, não damos o valor devido a esse dom maravilhoso, e de certa forma por ter demais, deixamos passas as pequenas coisas, que hoje constato, são infinitamente maravilhosas.
Na educação física, observar que nos esportes precisar ajeitá-los mais seguidamente pelo suor que insistia em correr pelo rosto, dava igualmente um charme a mais.
Ela, nunca gostou de usar seus óculos, era a única menina da turma, e acredito que isso pudesse ser incômodo para alguém tão jovem.
O fim do ano chegou, as férias chegaram e o novo ano recomeçou, não estava mais com nossa turma.
Muitos anos se passaram, a reencontrei e não usava mais seu par de óculos, fez cirurgia, hoje em métodos bem mais avançados seja na oftalmologia, ou se ainda quisesse, infinitas variedades de cores e modelos para tal.
Cresceu, mudou, tirou...estava feliz, via no espelho outra imagem refletida de uma mulher, e quem sabe, como cada um de nós trás sonhos que ninguém tem o direito de julgar ou questionar, esse fosse um daqueles grandes, sendo assim, me restaria comemorar com ela e ser feliz como ela feliz estava.
O engraçado é que conheci outra mulher, essa nunca usou óculos, e sempre nas vezes que a vi, estava com seu rosto totalmente exposto, mostrando assim a beleza de suas pequenas sardas e demais detalhes de um rosto que me enfeitiçava.
Passados alguns anos, voltei a ver essa mulher, hoje usando óculos, que diferentemente da minha ex colega, hoje é por necessidade, sim, os anos passam para todos nós, mas o que é incrível nisso tudo, é que mais uma vez o par de óculos fez dessa, mais uma vez a mulher única, mostram por debaixo de modernos e coloridos óculos, olhos lindos que parecem querer ver a vida por outro ângulo, veem com olhos de uma mulher mais madura, mais experiente, mostram sim, pequenas rugas que nem por isso são apaixonantes.
Dois pares de óculos, tão distante e tão próximos... duas mulheres, duas vaidades em momentos distintos, duas maneiras diferentes, antes e hoje, de verem o mundo, duas lembranças...mas que nem por isso, menos lindos e belos rostos de cada uma delas...

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