O inocente amor de infância...
Quem de nós, de idade um pouquinho mais avançada, não tenha
vivido aquele amor de infância?
Não que tenhas a pretensão de saber as respostas e motivos
deste tipo de amor hoje não existir mais, mas lembro-me saudosamente e muito
carinhosamente dos bons tempos de colégio, principalmente, onde era mais comum
nos permitirmos a esse lindo e puro sentimento de amor.
Tudo começava, em cruzar o olhar com aquela menina em que a
gente mais simpatizava e geralmente quando ela não estivesse olhando, entre uma
explicação de um ou de outro professor, com a imagem dela no olhar, tentar
criar um mondo de fantasias, bonito é verdade, onde já conseguíamos mesmo que
ainda distante, imaginar, sonhar em juntos sermos e termos uma família.
Normalmente, em forma de desenhos, isso uma professora me
disse, pedindo- me até no ultimo dia de aula se poderia ficar com o meu, era
representado em sua maioria naquela casinha colorida, de janelas com cortinas
de bolinha, um carrinho, quase sempre um fusquinha, na garagem, um verde e
grande gramado na frente da casa, uma chaminé, e nas minhas em particular, uma
antena de televisão.
Assim, representava em desenhos, minha ideia e concepção de
“família feliz”!
A cada novo traço no desenho, a cada trocar do lápis de cor,
a cada movimento das mãos, junto estava a imagem guardada num coração puro e
inocente, a imagem da colega que sonhávamos poder viver tudo aquilo. Tínhamos a
certeza de que relacionamentos seria isso, ou mais ou menos isso, e
encontraríamos aquela colega de escola, com ela e somente ela e começaríamos e
fazer planos, para um futuro não tão distante e seríamos felizes para sempre.
Seria mais ou menos assim. Filhos acreditem, igualmente
sonhávamos com isso, mas o engraçado é que a “forma” de fazermos os filhos, não
era o mais importante, poderiam vir nossos filhos pela cegonha que já estaria
de bom tamanho.
O amor, bem como as formas de demonstração deste sentimento,
na época, não estava ainda vinculado ao sexo. A forma de amor, pelo menos para
mim, era bem diferente, talvez pelo não conhecimento, ainda, do gosto do “fruto
proibido”, hahaha.
O que fazia o coração disparar, a boca ficar seca e a
perna tremer, era em primeiro lugar a
trocar de olhares, aquele sorriso um tanto tímido e discreto, a troca de
bilhetinhos de mensagens muitas delas sem
sentido, ou as mais variadas bobagens a respeito do nosso dia a dia,
como temas, o que vai fazer no fim de semana ou quem sabe, de forma mais
ousada, é “ se pensa ou gosta de mim”.
Quem não se lembra, da primeira vez que depois de muito
criar coragem, se permitir a um “pegar na mão”? Nossa, era simplesmente
maravilhosa a sensação de tamanha intimidade.
Com as mãos dadas, ao que tudo então indicava que o único e
próximo passo a seguir, seria o de pedir em casamento, já que todos os planos
estavam ali, dentro de nossa imaginação e coração.
O passo seguinte ao primeiro beijo? Ah, isso é outra
história e um passo bem mais longo a se dar, não é e nem era bem assim, pegar
na mão hoje e já sair beijando, ora essa, onde já se viu? Afinal ela era apenas
minha “namorada” e beijar seria algo “bem mais sério”.
Nas reuniões dançantes, a tarde é verdade, igualmente eram
tomadas e movidas no balanço e no ritmo das músicas, de uma inocência saudosa e
muito querida. Lembro que a menina nos
segurava pelo pescoço e nós, meninos pela cintura e entre a gente, caberia
tranquilamente mais um casal hahaha, tamanha distância entre a gente. Mas valia
então pelo que de mais nos importava e
buscávamos, a troca do olhar, ver a brilho dos olhos de quem
estávamos “apaixonados”, o sorriso de
canto de boca disfarçando mas entregue assim que as covinhas de seu rosto a
denunciasse.
Tínhamos ao findar deste encontro, a certeza de duas coisas,
de que cada um voltaria a sua casa e que na segunda feira voltaríamos a nos
encontrar, tendo passado um fim de semana inteirinho, de sonhos distantes que
nos transportavam a uma cidade de sonhos onde aqueles desenhos antes expressos
em folha de papal, tomavam forma e ainda trazíamos a esses sonhos a sensação do
toque da sua mão, o cheiro perfumado de seu cabelo, a voz encantadora quando
pronunciava seu nome e o olhar, que na nossa interpretação era do mais
verdadeiro, sincero e profundo amor.
Não me lembro de quando me dei conta de ter passado por esta
fase, e de quando perdi essa inocência que tanto alimentou de forma tão pura
minha doce e querida infância, não, não lembro, infelizmente.
Quando nos damos conta, a vida se apresenta de forma muito
diferente, onde por vezes, nem sempre aquele antigo sentimento e maneira de ver
o mundo e as coisas, é o mais adequado, por que com ele, ficamos vulneráveis
aos sofrimentos impostos pelo mesmo tipo de sentimento, e que por incrível que
possa parecer, não sabemos em sua grande maioria de como supera-los, mesmo mais
velhos e experientes.
Não são poucas vezes em que me deparo com uma vontade enorme
de voltar no tempo, reencontrar aquela menina, aquela colega, em que um dia,
quem sabe na minha mais verdadeira forma de ver o mundo, as coisas e esse
sentimento chamado de amor, a tenha imaginando fazer parte daquele desenho de
linhas não tão retas e de pintura não respeitando muito os limites do desenho,
mas que com certeza alguma coisa lá no fundo
me diga de que sim, aquele era o
nosso lugar!
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