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sábado, 12 de agosto de 2017

O medo da "Hora Aquela"



O medo da "Hora Aquela"...
Na medida em que vamos envelhecendo, muitos dos medos que temos, ou trocam de lugar, deixam de existir, ou em alguns casos, apeacem outros.
Quais foram ou são os meus?
Buscando na memória, de criança, o medo da morte, de aranhas, cobras, escuro, bicho Papão, perder meus pais, ficar sozinho...
Ai veio a adolescência, e mudam os medos...
Continuam o da morte, mas nem tanto, aranhas, cobras, perder maus pais, deixam de existir, do escuro, bicho Papão.
Atingimos a idade quase adulta, aquela antes dos primeiros cabelos brancos, revemos os medos: aranhas, cobras nem tanto,porque cobras não são tão comuns das cidades e isso aprendemos a observar com o tempo, perder maus pais, entram em cena o do futuro, do emprego, dos relacionamentos, das responsabilidades, de tomar decisões, medo de errar, de fracassar...nossa como mudou né? Mas vem cá, com a idade não deveriam começar aos poucos desaparecerem? Afinal somos mais experientes, já cometemos erros e sempre procuramos observar entes de qualquer decisão ou riscos.
Mas não, eles botam como novas flores na primavera, infelizmente seu o agradável aroma da nova estação.
Agora na minha idade, 52, que idade é essa afinal?
Terceira já?
Melhor idade como dizem alguns, deve ser os que não sentem o ranger de ossos em corpos mais pesados e avançados com a idade e total sedentarismo.
Quem meu medo hoje?
Vamos contar...
Buscando os que ainda possa ter até aqui.
Aranhas? Sim, terrível, mas nem tanto, assim como as cobras elas deram um tempo de conviverem com os humanos em grandes centros de asfalto e cimento.
Cobras já nem tinha mais.
Bicho Papão? Não né?
Do futuro? Qual futuro? Para onde ainda sonho em ir? Será que não tenha me acomodado que o futuro hoje tanto faz, desde que menos pior o dia de amanhã que o de hoje e de ontem? Futuro curto esse, sem graça, mas como nosso assunto é medo, esse não tenho mais.
Futuro emprego, passou, me aposentei.
Relacionamentos, medo não, não deu nem tempo.
Errar? Fracassar? Já errei e continuo errando muito, fracassar? Não preciso mais ter medo, já fracassei.
Perder meu pais, infelizmente já os perdi, e só eu sei a dor que isso significa na minha vida, até hoje saudosa, dolorida e incurável.
Morte? Sim, esse voltou, na juventude parecia tão distante que agora bate a porta como que aos poucos querendo se chegar.
Não tenho medo da morte em si e para onde eu passa ir, mas meu medo é bem material, eu, olha só que coisa, tenho medo de "deixar" outras pessoas tristes, que nóia isso.
Mas tem medo novo ai?
Tem, e acreditem, o maior medo que já senti, o que mais me assusta, o que mais me causa dor aguda no fundo do meu coração e em toda minha alma...
Esse medo chama-se "A Hora Aquela"...
Sabe que hora é essa?
Ela está presente nos doze números do relógio, e está "sempre na hora dela", querer fazer que o "cuco" cante sabe-se lá quantas badaladas, é a hora em que o som mais alto que escute seja o da solidão, do nada, do vazio, no ouvir apenas a minha única presença num ambiente que insisto em querer chamar de casa.
A hora bate ponto quando chego de meus passeios ou viagens, deixo o carro na garagem, subo o elevador, pela fresta da porta já observo que não tem luz nenhuma, porque ninguém está me esperando, passo das em cada três fechaduras duas voltas de cada chave e abro a porta e ouço como diria Paul Simon, "The Sonds of Silence", e não lembro sobre o que fala a letra, usei aqui apenas o título.
O som do silêncio da "hora aquela".
Da que por mais alto que coloque o som favorito na vitrola, não sou capaz de deixar de ouvir. Ele ecoa como um eco marcante de anos de erros e desencontros.
A televisão é ligada de imediato: oi Silvio Santos, tudo bem? Sejas bem vindo e fique por aqui, adoro tua companhia.
A solidão mata, da pior forma possível e terrível, mata aos poucos, da míngua, dolorosa porque é cruel e silenciosa,
Ninguém percebe que estamos morrendo aos poucos, porque nada que o dia possa ter sido maravilhoso, sobrevive a uma volta silenciosa e solitária para casa.
Adoecemos de entro para fora e assim que os sinais visíveis se fizerem notados, será tarde de mais, porque a alma adoeceu e não restará a não ser uma contagem regressiva falindo aos poucos cada parte do corpos físico, de um espiritual já abatido.
A "Hora Aquela" é hoje meu maior medo, que curiosamente fez de todos meus medos de infância até aqui, meros coadjuvantes de uma vida de caminhada desde 1964.

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