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domingo, 6 de dezembro de 2015

Entre as luzes de Natal...



O sol começava a se por, na luz ao fundo no horizonte da estrada, a cor alaranjada mostrava ser aquele o fim de mais um dia. Esse em especial de muitas coisas boas, meu filho e eu aproveitamos para botar papos em dia, viajar, rever amigos, almoçar juntos e tanto na ida como na volta, com uma trilha sonora legal no carro.
Junto desta linda paisagem, do clima, meu filho ao lado dormindo um sono confortador, na medida do possível, fazia carinhos e cafunés, marca registrada do meu pai para comigo e que sempre fiz nele desde pequeno... 
Sentia nele, assim como eu sentia, um "aconchego" corporal, como se alma e corpo, se confortassem no sono, amparados por tamanho amor e carinho...
Chegamos a cidade, levo ele ao encontro de sua mãe, recebo mais um daqueles beijos "babados" que amo, e um tchau até amanhã me conforta meu coração de pai por mais um dia...
Mas na viagem, entre uma música e outra, lágrimas corriam meu rosto, pelos mais variados sentimentos, as mais variadas dúvidas, medos, traumas, lembranças...depressões...
Era cedo demais ainda para voltar a minha casa, sempre vazia e cheias de nada...
Era ainda cedo para me encontrar com minha solidão que chegados ao 51, começo a ter a dimensão de como grande ela é...
Resolvo então seguir em frente, não estava com fome, mas qualquer lugar com gente aquelas alturas do campeonato me trariam afago ao meu sentimento de solidão.
Vou a cidade vizinha de Estrela, onde a cidade transpira "Natal", com todas suas ruas carinhosamente enfeitadas, decoradas com o espirito de Natal, sua praça central e rua, calçadão, lindamente decoradas de encher os olhos...e assim fui...
Lá chegando, milhares de pessoas caminhando, sozinhas, entre amigos, casais, famílias, sorrisos nos rostos, olhos infantis cheias de esperanças no que quem sabe o Bom Velhinho irá trazer, a cada vitrine, brilhos e mais brilhos pelas cores, luzes, brinquedos e ao fundo a música de Natal dando o toque final daquela noite de sábado...
Caminho um pouco entre tantos desconhecidos, não encontro um rosto familiar, mas mesmo assim, cada um deles me conforta na minha solidão...
Resolvo sentar numa mesa e pedir uma porção de batata frita...
Me dou conta de que estou entre duas mesas, uma, mãe e dois filhos, esses, com idade entre 8 e 13 anos...
Na outra, pai, mãe e igualmente dois filhos pequenos...
A mãe ao meu lado, está em sua terceira lata, latão, de cerveja... seus filhos o mais novo no refri e o mais velho na água mineral...
Na mesa ao lado, igualmente, jantando juntos...
Lá pelas tantas, um homem se aproxima da mãe solitária e começam a conversar...
O filho mais velho, observa a distância, sem fixar o olhar, mas atento como filho, simples assim.
Observo que entre eles, combinam um "mais tarde" quem sabe...
O homem passa a mão na cabeça do mais novo e se retira, dá ainda uma olhada para trás, como que "selando" o combinado que foi dito ao pé do ouvido...
O mais novo pergunta:
- Mãe quem é?
Ela responde:
- Um amigo da mãe...
O mais velho também responde:
- Sim, um amigo que a mãe conheceu agora...
Ela não se dá conta da observação de seu filho, quero crer que pelo efeito das mais de 3 latas de cerveja...
Ela pede pressa para que ambos terminem de jantar...
Ai meu olhar vai ao rosto do mais velho...reconheço...já vi aquele olhar, já tive o mesmo olhar...não pelo mesmo motivo quem sabe, mas reconheço aquele olhar...
Uma dor forte rasga meu peito, meu coração começa a perder a vontade de continuar batendo... meus olhos perdem a visão aos poucos com lágrimas que luto ferozmente a não deixá-las caírem...
Perco a fome...
Olho a mesa do outro lado...uma vida totalmente diferente... Pais, filhos, unidos numa noite de véspera de Natal...
Mais adiante outras crianças correndo e brincando, enfeitiçadas pela magia das luzes e sons de Natal...
A mesa ao lado, os três levantam-se... no rosto do mais velho, não vi mais expressão nenhuma de sentimento algum...
Na mesa do lado, quem sabe as crianças pediriam ao papai Noel, um carrinho, uma bicicleta...uma boneca quem sabe?
Nesta outra mesa aqui, quem sabe um dos pedidos seria que quem sabe, o "amigo" esquecesse de papar na casa deles essa noite?
Lembrei de como e de quantos beijos e abraços dou diariamente em meu filho...e quantas crianças neste mundo, recebem beijos, abraços e carinhos, de "outras" formas e são violentadas em sua natureza pura de crianças e muito mas muito cedo aprendem que o mundo não é assim tão feliz...
Quantas são abusadas pelas pessoas que vieram ao mundo para mais amar e receber amor...
Quantos como aquele menino, tem o nosso vínculo mais forte e amoroso, "violado" por amigos ou "tios" que insistem em vez que outra visitar sua mãe...nosso bem mais precioso...?
Olhei para o céu, e minha crença na reencarnação vem sempre mais forte, porque Deus não seria justo em nos dar uma única vida e nessa não podermos ter a benção de viver em família como manda o figurino...
A cada passo que os três davam em direção a sua casa, acreditem, sei exatamente o que o pequeno coração daquele menino sentia...e de como, de verdade, ele gostaria de acreditar no papai Noel...

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