Numa noite de céu estrelado, como sempre, meu pai estava na escada fumando seu cigarro e contemplando as luzes da cidade ao longe, as estrelas e mais uma vem me cheguei pra gente conversar.
Meu pai sempre foi um cara que adorava conversar, sabe, de certa forma "filosofar", sobre o assunto que fosse, e isso faz uma falta danada hoje em dia.
Mas então mais uma vez sentei ao seu lado, e como sempre ele começava a puxar conversa, quero crer que ele sabia ler a minha mente, ou ver nos meus olhos quando uma coisa me incomodava ou me deixava inquieto.
Como sempre, nunca ia direto ao ponto da minha dúvida ou inquietude, fazia alguns rodeios até chegar no ponto.
Lembro como se fosse hoje, chego a sentir o cheiro daquela noite de verão, afinal, nossa casa tinha bastante flores e sempre sentíamos o perfume das flores da época, lembro também do que estava sentindo e qual era meu "medo" do dia.
- Ai meu filho, o que te aflige?
- Pai, tenho medo da morte!
- Porque isso, tu não vai morrer tão cedo...porque esse medo?
- Sei lá, tenho medo de morrer, deixar as pessoas que amo, minhas coisas, minhas conquistas se um dias as tiver... Tenho medo de morrer e não ter mais as coisas que tenho, poder viver tudo isso que gosto de ver, comer, ouvir, sentir...tenho medo, muito medo de morrer.
- Meu filho, como disse, não tenhas medo, vais viver muito, muito tempo ainda...
- Mas mesmo assim pai, e quando chegar minha hora? Mesmo quando for mais velho, ainda e mesmo assim terei medo...
Foi então que ele me disse o que nunca mais esqueci...
- Meu filho, não tenha medo da morte, não te preocupe, Deus te dará o tempo necessário para viver e fazer todas as coisas, as tuas coisas que deverão serem feitas, e acredite em mim, quando chegar o tempo da tua morte, laaaaaaaaa, bem lá na frente, daqui muitos e muitos anos, vais ver que a morte será um presente, estarás cansado de viver, não que a vida não tenha sido boa em que a morte seria melhor que viver, mas estarás e paz, e não terás medo da morte, vais estar pronto e de certa forma a aceitará numa boa e sem medo algum... Quando chegar a hora, saberás que ela, a morte será o encontro da tua paz e como num filme, vais poder viver todas as coisas boas que já viveu novamente. Não tenha medo da morte, acredite, quando crescer irás entender o que eu digo.
Confesso que não foi assim totalmente confortante ao meu medo da morte, mas com certeza me apeguei a isso, e naquele momento de enorme medo, foi um grande conforto, pois como já disse, sempre acreditei nas coisas que meu pai falava pra mim.
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terça-feira, 1 de janeiro de 2013
Medo do Fim do Mundo.
Quando criança, tinha um enorme medo do fim do mundo. Hoje vejo que meu medo era ainda maior, pelo fato de ser muito materialista, sempre fui.
Então lembro de uma noite, logo depois de um Natal, quero crer, que esse medo estava de uma forma horrível me perturbando.
Na época, isso anos, 69, 70, morávamos em Novo Hamburgo, e nossa cara, era numa parte alta da cidade onde a gente podia ver quase que "toda" Novo Hamburgo ao longe e suas luzes quando anoitecia.
Mau pai costumava ficar sentado na frente da casa, as vezes bem no final de uma enorme escada que ligava a calçada até a casa, e ali ficava fumando seu cigarrinho e as vezes ouvido seu inseparável rádio AM.
Essa paixão tanto pelo rádio, trabalhar, ou simplesmente escutar rádio AM na madrugada, foi mais uma das tantas coisas que "herdei" do meu pai.
Muitas vezes ele e eu, ficávamos os dois ali sentados, olhando as estrelas, na época igualmente, as luzes não era assim tão fortes e modernas como hoje, e tínhamos então melhores condições de ver a lua e as estrelas.
Ali então várias foram as noites em que juntos, conversávamos sobre muitas coisas, relacionamentos, futuro, teorias das mais variadas, juntos tentando descobrir os "porquês" da vida e seus mistérios, e por ai vai.
Mas nesta noite em especial, lembro que estava apavorado com o tal do fim do mundo, vajam, estamos em 69, 1970 por ai, se soubesse do calendário Maia na época, estava perdido, mas ele percebeu minha inquietude com alguma coisa e perguntou:
- E ai meu filho, que te incomoda?
- Nada pai...
- Te conheço, fale, o que te perturba?
- Na verdade to com medo...
- Medo de que meu filho?
- Do fim do mundo!
- Fim do mundo? Medo? Porque isso agora? De onde tirou isso?
- Ah pai, sei que um dia o mundo vai acabar, ai fico pensando pra que ter um monte de coisa, guardar meus brinquedos, ainda mais agora que ganhei um monte de brinquedos novos se vai ter um fim igual?
- Mas tudo tem um fim um dia...
- Eu sei, mas não queria que fosse agora, nem amanhã e nem daqui uns dias...
- Mas o mundo não vai terminar agora e nem tão cedo...
- Como sabe disso? Como tem tanta certeza?
- Eu sei porque Deus é bom, e Ele disse que enquanto uma MÃE existir neste mundo e apenas uma mãe rezar a noite para Ele, Ele não terminará o mundo...
- Jura?
- Sim, te garanto isso meu filho.
Lembro que fiquei aliviado pela sua explicação sobre o fim do mundo, pois acreditava sempre nele e em Deus, mais ainda... Só não lembro direito, mas acho que sim, que antes de dormir devo ter pedido a minha mãe para rezar naquela noite e nas próximas noites que viriam a seguir...só por garantia...
Na foto, a escada de onde ficávamos conversando, bem na frente da porta de entrada da nossa casa.
Vamos tomar um cafezinho? Eu pago...
Pode parecer uma frase simples, boba e corriqueira, mas esta frase, ou melhor este convite, várias vezes quando criança, via, ou vindo do meu pai convidando meu tio Eraldo, irmão dele ou vice e versa.
Achava isso simplesmente maravilhoso, pela magia da coisa, sabe, um cafezinho, simples, em pequenas xícaras, passado, adoçado com açucareiros daqueles com a boca quase entupida de açúcar no bocal muitas vezes molhando pelos pingos de cafés anteriores. Nada de cafés metidos a besta, expressos, cheio de cremes dos mais variados tipos, um café, um cafezinho, simples, pequeno, mas acompanhado de todo um ritual, seja um cigarro, um bate papo informal, um bar cheio daqueles barulhos característicos, que quem viveu e conhece sabe do que to falando. Agora, soma se isso a Novo Hamburgo, no mais tradicional Café que já conheci, o Café Avenida, patrimônio de uma cidade que deixaram terminar.
Um cafezinho, sem mais nenhum tipo de acompanhamento, nada de bolachinhas, água, ou qq coisa pra comer...um cafezinho, apenas ele.
Acompanhei várias vezes meu pai e tio neste cafezinho, e ficava imaginado e sonhando de quando um dia fosse grande, teria um amigo de fé pra convidar a tomar o mesmo café, eu pago!
Mas o tempo passou, eu cresci, e hoje além deste tipo de "bar cafeteria" ser raros, não tenho, quando olho ao lado a quem convidar para este cafezinho...
Aqui no FB, sim, teria amigos que convidaria para este cafezinho, quem sabe num novo encontro com eles, como meus queridos amigos Delmar Flesch, J Ricardo T Varela, Walter Ricardo Wommer, entre outros...
Não cheguei a viver este cafezinho ainda, mas quero acreditar de verdade que existia com certeza algo muito mais além do que o simples sabor, açucarado ou não de um café passado preto, degustado num balcão de granito, com fumaça de cigarro e um tempo a ser maravilhosamente aproveitado numa conversa jogada fora...
Achava isso simplesmente maravilhoso, pela magia da coisa, sabe, um cafezinho, simples, em pequenas xícaras, passado, adoçado com açucareiros daqueles com a boca quase entupida de açúcar no bocal muitas vezes molhando pelos pingos de cafés anteriores. Nada de cafés metidos a besta, expressos, cheio de cremes dos mais variados tipos, um café, um cafezinho, simples, pequeno, mas acompanhado de todo um ritual, seja um cigarro, um bate papo informal, um bar cheio daqueles barulhos característicos, que quem viveu e conhece sabe do que to falando. Agora, soma se isso a Novo Hamburgo, no mais tradicional Café que já conheci, o Café Avenida, patrimônio de uma cidade que deixaram terminar.
Um cafezinho, sem mais nenhum tipo de acompanhamento, nada de bolachinhas, água, ou qq coisa pra comer...um cafezinho, apenas ele.
Acompanhei várias vezes meu pai e tio neste cafezinho, e ficava imaginado e sonhando de quando um dia fosse grande, teria um amigo de fé pra convidar a tomar o mesmo café, eu pago!
Mas o tempo passou, eu cresci, e hoje além deste tipo de "bar cafeteria" ser raros, não tenho, quando olho ao lado a quem convidar para este cafezinho...
Aqui no FB, sim, teria amigos que convidaria para este cafezinho, quem sabe num novo encontro com eles, como meus queridos amigos Delmar Flesch, J Ricardo T Varela, Walter Ricardo Wommer, entre outros...
Não cheguei a viver este cafezinho ainda, mas quero acreditar de verdade que existia com certeza algo muito mais além do que o simples sabor, açucarado ou não de um café passado preto, degustado num balcão de granito, com fumaça de cigarro e um tempo a ser maravilhosamente aproveitado numa conversa jogada fora...
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