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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Se essa rua fosse minha, eu não mandava ladrilhar...



Se essa rua...se essa rua fosse minha...eu NÃO mandava ladrilhar...
Estou dois meses sem carro, e nestas tive uma oportunidade bem legal que há muito tempo não fazia...caminhar...
Na verdade carro tive mesmo e apenas só depois dos meus 30 anos, antes era sempre tudo a pé, de ônibus e vez que outra uma carona...
Nesta época de fim de ano, como faço sempre, procuro, com certeza pelas emoções mais afloradas e sensíveis, fazer uma espécie de balanço...me perguntando o que fiz de bom, o que poderia ter feito diferente...onde errei, onde acertei, nessas o que vale a pena repetir...evitar...o que pode mudar...mas mudar de verdade, pra estourar a boca do balão...
Este ano, então por estar sem carro, dois meses caminhado pela cidade...redescobrindo "atalhos" para chegar a determinados lugares, evitar subidas que possam vir a me tirar os bofes pra fora...e acreditem...tive boas e mas surpresas...emoções boas e ruins...alegrias e muitas, mas muitas tristezas...como sempre na minha vida, sempre sou mais triste do que feliz...

Nessas caminhadas...pude perceber que muitas, mas muitas coisas verdadeiramente mudaram...e pra mim...infelizmente pra pior...
Casas de arquiteturas clássicas desapareceram, deram lugar a traços modernos ou prédios de apartamentos...
Aquela velha e tradicional calçada de pedra laje, igualmente muitas desapareceram...
Nas ruas, novas iluminações, cores, ausência de árvores que igualmente nessa época trazia um "cheirinho" de natal característico...
Prestando um pouco mais atenção, seus moradores igualmente ali não habitam mais...
Muitos sei que faleceram, outros se mudaram, uns até de cidade, e outros nunca mais vi ou soube deles...
Lembro ao passar por essas ruas, de como as coisas eram numa época muito legal, onde nossos valores e sonhos eram totalmente inversos aos que hoje almejamos...uma pena, triste isso...
Em muitas dessas casas hoje não existentes mais, sumiram com elas aqueles pátios enormes cheios de flores e árvores que cuidadosamente eram decoradas com luzinhas de natal e brilhavam no reflexo de meus olhos, sonhos de esperanças e renovação de que no fim tudo daria certo e que no ano que viria a seguir, as coisas sim iriam melhorar e serem mais felizes...

Saudades de um oi, olá, boa noite recebido e correspondido dessas centenas de pessoas hoje que não as vejo mais... Saudades de menos barulho de carros e de tanta poluição visual...

O comércio não tinha e nem precisava tanto de recursos de iluminação e placas enormes apara traírem clientes, bastava sempre a confiabilidade de seus produtos, a tradição da família e do carisma de seus proprietários... Hoje sequer conheço o dono na vendinha ali da esquina, nunca vi mais gordo...

Caminhando não sinto mais cheiro de terra, de pó...de verde... Não existe mais espaço para coisas assim tão "naturais"...

Cada passo dessas novas caminhadas, faço um paralelo do ontem e do hoje...
Percebo que não caminho mais com o mesmo vigor de outrora..que anos se passaram igualmente pra mim e não só para as ruas, as calçadas, as casas e cidades...
Busco na memória de quantas vezes fazia esse trajeto, para ir ao colégio, na igreja, visitar meus avós, amigos...namorar...e juntos irmos ao cinema...nem esse existe mais...cinemas de rua...tudo trancafiado dentro de shoppings...

Vejo no reflexo das vitrines que a moda mudou...quanta diferença de me vestir...
Vejo que meus cabelos estão cada dia mais brancos e bem mais brancos daquele tempo que sequer isso me passava pela cabeça...

Tantas lojas que tinham meus verdadeiros sonhos de consumo, sejam de roupas, calçados ou eletrônicos, nem sequer um traço daquele tempo sobrou nas paredes dos prédios hoje ali existentes...

Em relação a bares e restaurantes a mesma coisa... Muitos não existem mais, aqueles em que tomava uma "Gilda", comia um picolé da Kibon, um refri de garrafinha, ou aquele xis feito com carinho e capricho pela tia, essa esposa do tio do bar...

Pois é...

Sem carro, muitas coisas pude ver e sentir no fundo de minha alma que o mundo mudou muitos, as pessoas também, e que muitas vezes pela rapidez da vida nem nos demos conta e percebemos tamanhas mudanças e ao cair a ficha, dolorosas...pelo menos pra mim, um saudosista de carteirinha...

Não me reconheço mais nessas ruas...não faço parte deste contexto... Não é meu mundo...o tempo passou e não percebi...

Medos e inseguranças ainda me impedem de romper com muitas coisas...

Mas sem prometer...essas caminhadas me fizeram ver de que não me resta mais muito tempo para ainda tantos planos e sonhos não realizados...e não posso mais adiar pelo menos esse meu primeiro passo...

Mudar de cidade, de ares...não significa mais pra mim mudar nada além do que necessidade de tentar um resgate, da mim, minha alma, minha fé e meu amor...

Caminha faz bem pra saúde, mas essas minhas, de tentar compreender muita coisa...buscar afinar o corpo, mente e sentimentos...e ainda acreditar que posso ainda fazer alguma coisa por ai...sozinho ou acompanhado..com ou sem amor...mas mudar é preciso...

Sim, se essas ruas essas ruas fosse minhas, eu não mandava, não mandava ladrilhar...seja por mais brilhante que fosse essas pedrinhas...

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